Módulo para avaliação da estabilidade dinâmica de navios atendendo à Segunda Geração de Estabilidade Intacta, critério em desenvolvimento pela IMO. São 5 os critérios de estabilidade da 2ª Geração:
1. Jogo Paramétrico (Parametric Rolling)
2. Perda Pura de Estabilidade (Pure Loss of Stability)
3. Guinada Brusca (Broaching)
4. Navio Inoperante (Dead Ship)
5. Aceleração Excessiva (Excessive Acceleration)
Até o momento, contemplei dois critérios: Jogo Paramétrico e Perda Pura de Estabilidade. Desenvolvi algoritmos que respondem se determinada embarcação é vulnerável ou não aos critérios nos níveis 1 e 2. Os dados de entrada são basicamente a geometria do casco do navio, condições de carregamento e dados hidrodinâmicos do corpo:
· Malha do casco do
navio (opcional: tanques internos para consideração de superfície livre).
· Tabela de ocorrência
de ondas na região de operação da embarcação (como padrão, utilizamos as ondas
do Mar do Norte, que é o padrão da norma).
· Área de bolina,
caso haja bolina.
· Velocidade de
serviço.
· Momento de
inércia (calculado no Sstab) e de inércia adicional de
jogo (calculada pelo Wamit).
· Amortecimentos de
jogo (linear, quadrático, cúbico) para diversas velocidades de avanço.
A interface a seguir apresenta todos os inputs necessários:
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Interface de input do
módulo Sstab 2nd Generation. |
As tecnologias desenvolvidas para o critério de Perda Pura são contempladas também no critério de Parametric Rolling, que é mais abrangente. Ambos são descritos em detalhes nos documentos fornecidos pela IMO.
O fenômeno de roll paramétrico é definido como o aumento da amplitude de jogo a cada ciclo de oscilação devido à passagem de uma onda longitudinal ou oblíqua que percorre o casco em sintonia com o movimento de roll. Esse aumento pode levar o navio ao emborcamento ou à situação de equilíbrio em um ângulo de banda elevado.
O mecanismo de roll paramétrico pode ser explicado com uso do diagrama de braço de endireitamento (GZ) da embarcação. Um digrama de braço de endireitamento típico é apresentado na figura a seguir.
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Diagrama de restauração hidrostática em água calma (curva vermelha) e em onda regular em diferentes posições com relação à meia nau do navio. |
Ilustração do braço de GZ, que é a distância horizontal entre o centro de massa e o centro de empuxo. |
A curva em vermelho representa, para cada ângulo de inclinação de banda, o braço de restauração da embarcação em águas calmas (equivalente ao calculado pelo Sstab; mas, nesta nova versão, o algoritmo é cerca de 6 vezes mais rápido). As demais curvas trazem uma novidade: o diagrama de GZ em onda regular. No exemplo, o comprimento de onda utilizado é igual ao comprimento do navio, que é o comprimento da onda crítica para o roll paramétrico.
Cada curva corresponde a uma posição Xc/Lw da crista em relação à meia nau da embarcação normalizada pelo comprimento da onda; onde Xc=0 refere-se à crista posicionada à meia nau, Xc/Lw=-0.5 e Xc/Lw=0.5 representa a crista posicionada na proa/popa. Além das curvas de GZ para cada posição da crista, também calculamos a altura metacêntrica GM, que é uma medida da estabilidade da embarcação. A figura a seguir apresenta a curva de GM para uma dada onda percorrendo o casco do navio.
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Altura metacêntrica para onda passando ao longo do casco do navio. |
A figura a seguir ilustra 5 posições da crista em relação à embarcação.
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Diversas posições da crista passando pelo casco no navio. |
O módulo de avaliação de vulnerabilidade do navio quanto ao jogo paramétrico no nível 2 é ilustrado nas imagens a seguir. O critério é composto por duas avaliações: uma simples (C1) e outra mais complexa (C2).
Na avaliação simples, a altura metacêntrica é calculada para diversas ondas definidas pela norma (para diversas posições relativas da crista).
Na avaliação C2, diversas ondas de comprimento L e alturas definidas na norma são utilizadas como referência. Para cada onda, uma simulação dinâmica de oscilação de roll em onda longitudinal é realizada para cada velocidade de avanço considerada (a norma atualmente determina a avaliação em 7 velocidades, mas o algoritmo é genérico para N velocidades). A equação do movimento de roll é descrita a seguir:
Essa equação é integrada ao longo do
tempo pelos métodos de Runge-Kutta de 4ª ordem ou
MEG-α (ambos implementados em C++ de forma genérica). O valor do braço de
restauração GZ é interpolado no tempo, que define a posição instantânea da
crista com relação ao casco, e no ângulo de roll.
Observa-se que a equação do movimento é homogênea. A excitação decorre da
variação da restauração hidrostática de acordo com a passagem da onda propagada.
Quando essa propagação entra em sincronia com o movimento de oscilação, a
embarcação entra em ressonância paramétrica. Os detalhes da Física do problema
foram estudados e os resultados são compatíveis com o que a teoria prevê. O
código foi validado em conjunto com o LabOceano/Coppe-UFRJ
e os resultados são extremamente aderentes aos resultados apresentados pela
delegação da França junto à IMO, tomados como benchmark.
Há dois itens na norma que proponho
mudança. Considero equivocada a equação da passagem da onda estabelecida pela
norma. Após esta proposta, encontramos duas referências defendendo o mesmo
ponto (documento enviado pela delegação da China à IMO e documento da ABS).
Outro item é uma proposta para aumentar a precisão nos cálculos de ângulo
máximo de roll para cada onda. Em vez de se
interpolar os ângulos máximos de roll obtidos nas
simulações em ondas de referência, proponho a realização das simulações
dinâmicas em todas as ondas efetivas (geradas a partir do diagrama de
ocorrências) utilizando as curvas de GZ interpoladas das ondas de referência. O
custo computacional adicional é pequeno e justificável diante da melhoria nos
resultados, como já testamos.
As duas figuras a seguir apresentam a
interface de avaliação de C2 em roll paramétrico com
uma onda de referência selecionada. O gráfico à direita apresenta as curvas de
GZ para a onda selecionada.
Na figura seguinte, o gráfico apresenta o sinal de roll resultante para a onda selecionada e velocidade de avanço selecionada. Neste exemplo, são 70 simulações físicas no total. A tabela à direita indica os pares (altura de onda / velocidade de avanço) que falham ou atendem à norma.
Tecnologias a se destacar:
· Algoritmo de equilíbrio em água calma (plana) e em água com ondas.
· Algoritmo de equilíbrio mais eficiente (6 vezes mais rápido que o padrão do Sstab). O avanço no problema de otimização é baseado em propriedades geométricas resultantes da interseção do casco com a superfície da água em cada iteração, o que torna a busca pelo equilíbrio mais eficiente.
· Cálculo eficiente do volume (e centroide) da água deslocada pelo casco em ondas. O caso de água calma é contemplado de forma eficiente.
· Algoritmo eficiente para geração da área de linha d’água na interseção com o casco
· Discretização da malha da onda adaptativa pela altura e comprimento (também contempla mares irregulares). Essa malha é usada para acelerar a avaliação de elevação de onda e para acelerar o corte do casco com a superfície da água.
· Cálculo do baricentro e do volume submerso do casco em água com onda.
o Esse algoritmo é executado em cada passo do algoritmo de equilíbrio em águas onduladas e é necessário que seja eficiente. Sabendo-se que, em mar regular a onda propaga-se em uma única direção, é possível discretizar a superfície da onda com uma malha 1D. Para isso, basta a criação de um mapa de alturas 1D sobre uma reta paralela ao vetor direção de propagação da onda. Usando um espaçamento uniforme, podemos avaliar a elevação da onda em qualquer posição em O(1), o que acelera o algoritmo de corte da malha do casco com a água.
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Vista Lateral |
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Vista Superior |
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Isométrico e detalhe do corte da onda com a proa |